Architizer Award winner in the Architecture + Photography category 2016
Arcaid Images “Architectural Photographer of the Year 2015”
Plataforma Arquitetura Photography Prize “Obra del Año 2015 – Project of the year 2015”

Destaques

LOOP DESIGN AWARDS
Fernando Guerra

BOOK EDITION
three days in Biarritz

FG EDITION
Bags & Camera straps

FG+SG BOOK EDITIONS
Livros de imagem

FINE ART PRINTS
Limited ditions

FERNANDO GUERRA
MoMa New York

Notícias

Uzina books com fotografia de Fernando Guerra

BELÉM LIMA
12 Regards

Ana Vaz Milheiro
Bernardo Pinto de Almeida
Emídio Agra
Fernando Guerra
João Miguel Fernandes Jorge
José Luís Gordo Porfírio
Jorge Figueira
Maria Filomena Molder
Rui Chafes
Susana Camanho

Rui Chafes
Habitar uma Sombra

Para chegares a uma casa, tens de caminhar. Tens de procurá-la. Uma casa não existe. Uma casa não vem ter contigo, à tua procura. Nenhuma casa te espera, a menos que aceites que aquilo que te espera possa ser uma casa. Tens de procurá-la, tens de construi-la, mesmo que pareça já estar construída. Procuramos uma casa, nem sempre sabemos onde ela se poderá encontrar.

Uma casa de granito, ou de calcário, ou de madeira, ou de betão, ou de pano, ou de adobe, ou de terra misturada com canas, ou de ferro, ou de papel. Um cobertor, ou apenas a arcada de um prédio na noite desta cidade. Ou os lençóis de uma cama, ou um quarto de hospital, ou as quatro paredes de um asilo ou de uma cela de prisão. Lugares onde a espessura do tempo perde todo o significado.

Uma gruta onde alguém esperará por alguém até que a última vela se extinga e tudo mergulhe na escuridão, para sempre. Um pequeno apartamento perdido entre tantos outros, ou um palácio escondido por detrás das árvores. Enormes janelas sobre a paisagem, uma distância que nos defende do mundo através do mais preciso enquadramento da sua beleza. Uma casa negra, uma sombra. Uma casa que não quer aparecer, que está e não está, que existe e não existe neste lugar, erguendo a sua sombra entre a brancura de todas as que a rodeiam. Ou as paredes de betão, viradas para dentro, que nos isolam do resto da cidade. Uma sucessão de longos muros coloridos onde os ramos das árvores se duplicam, silenciosamente, em forma de sombra. Um sofá no canto do quarto, a estante com todos os livros que contêm o nosso mundo. Um compartimento de comboio. Um quarto de hotel, frio, daqueles baratos, perto da estação, que os ladrões preferem, para poderem mais facilmente fugir.

 

BELÉM LIMA
12 Regards

Ana Vaz Milheiro
Bernardo Pinto de Almeida
Emídio Agra
Fernando Guerra
João Miguel Fernandes Jorge
José Luís Gordo Porfírio
Jorge Figueira
Maria Filomena Molder
Rui Chafes
Susana Camanho

Rui Chafes
Inhabiting a shadow

To get to a house you have to walk. You have to find it. A house does not exist. A house won’t come to meet you, it won’t come looking for you. No house expects you unless you accept that what is expecting you may be a house. You must find it, build it, even it already seems to be built. We look for a house without ever quite knowing where we might find it.

A house of granite or limestone, wood, concrete or cloth, adobe or earth mixed with cane, made of iron or paper. A blanket or just the arch of a building in the night of the city. Or the sheets of a bed, or a hospital room, or the four walls of an old people’s home or a prison cell. Places where the thickness of time losses all meaning.

A grotto where someone will wait for someone until the last candle burns down and all is plunged in darkness forever. A small apartment lost among so many others, or a palace hidden among the trees. Enormous windows over the landscape, a distance that protects us from the world by the most exacting framework of its beauty. A black house, a shadow. A house that does not want to appear, that is there but isn’t, that exists but does not exist in this place, raising its shadow between the whiteness of all the others surrounding it. Or concrete walls facing inwards, cutting us off from the rest of the city. A succession of long coloured walls where the branches of the trees silently duplicate themselves in the shape of a shadow. A sofa in the corner of the room, the bookshelf with all the books that contain our world. A train compartment. A hotel room, cold and cheap, near the station, the sort thieves prefer so they can more easily escape.

Uma cama para o nosso cansaço. Um objecto amado que conservamos no calor da nossa mão. Uma carta que recebemos e que mantemos guardada. Ou o armário com todos os objectos que recolhemos nas nossas viagens. Uma casa pode ser uma praia, uma onda, uma rocha.

Uma casa é uma fogueira, ou é um copo de leite quente, ou um copo de vinho, ou um copo de água. Uma casa solitária, rodeada de miragens. Uma casa abandonada, que nos abriga da chuva.

Uma casa é um jardim, uma árvore com raízes ou a sua sombra, apenas. Uma casa de adobe no vazio do deserto, uma tenda na estepe ou na hammada, o longo tempo que passamos escutando o sangue a percorrer as veias do nosso corpo. O velho nómada que vive numa tenda, no pátio da casa do seu filho, porque sabe que morrerá no dia em que tiver um telhado sobre a sua cabeça em vez do luminoso silêncio das estrelas.

Nós somos as casas, os países, as fronteiras. A nossa casa são as dunas do deserto onde, se algum dia morrermos, as nossas cinzas serão espalhadas e assim ficaremos para sempre juntos, levados pelo vento, pairando no nosso mais amado lugar do mundo, misturados com a areia, ora escaldante, ora gelada. A nossa casa é a nossa viagem, eterna e sem retorno, para além da última fronteira. Nunca mais nos custará subir as dunas, se fizermos parte delas. A minha casa és tu. Se viveres no sítio onde nasceste, estás sempre a perder, diariamente: nada
conseguirá curar as feridas da memória. Se emigraste para longe das tuas raízes, não perdes nada, tudo é novo para o teu coração. Tens tudo, menos o reconhecimento permanente e sempre espantoso dos espaços que já habitaste em criança, e que continuas a habitar.

Reconhecer… é essa a palavra mais pesada de todas, quando falas da “casa”. Falas de memória, de regressar às origens, do primitivo instinto do regresso. Uma menina com um ano, sentada na cadeira do fotógrafo, olha-nos lá de longe, na imensidão do tempo, com os seus olhos transparentes, a preto e branco; hoje tem quase 90 anos e a casa de granito onde nasceu persegue os seus sonhos e oferece-se, em vão, à sua corrida apressada e alegre pelas varandas e escadas. O cheiro das madeiras, o toque das maçanetas das portas na palma das nossas mãos, é disso que nos fala a muda arte dos construtores, dos arquitectos. Uma construção precisa, que fala apenas a sua própria linguagem, a sua própria essência específica.

A que local queremos sempre regressar? O teu desejo absoluto é ter uma casa que nunca mude, num local que nunca se modifique, sempre o mesmo. Mas, como sabes, isso é uma utopia, uma impossibilidade: nada mantém a sua forma. Nada. Tudo muda em permanência, até esta estrada em que atravessamos a paisagem, que hoje é assim e amanhã será de outro modo.

 

A bed for our tiredness. A beloved object we hold in the warmth of our hand. A letter we receive and keep. Or the cupboard with all the objects collected on our travels. A house can be a beach, a wave, a rock.

A house is a bonfire or a glass of warm milk, a glass of wine or a glass of water. A solitary house surrounded by mirages. An abandoned house where we shelter from the rain.

A house is a garden, a tree with roots or merely its shadow. An adobe house in the empty desert, a tent on the steppes or in the hammada, the long time we spend listening to the blood flowing in the veins of our body. The old nomad who lives in a tent in the courtyard of his
son’s house because he knows that one day he will die when instead of the shining silence of the stars he has a roof over his head.

We are the houses, the countries, the frontiers. Our house is the dunes of the desert where if one day we die our ashes will be scattered and so we will be together always, blown by the wind, hovering over our most beloved place on earth, mingling with the scalding or freezing sand. Our house is our journey, eternal and without return, beyond the last frontier. It will never be hard for us to climb the dunes if we are part of them. My house is you. If you live in the place where you were born you are losing every day: nothing can cure the wounds of memory. If you emigrated far from your roots you lose nothing, all is new to your heart. You have everything except the permanent and onstantly amazing recollection of the spaces you lived in as a child and in which you continue to live.

Recollection… that is the heaviest word of all when you speak of “home”. You speak from memory of going home, of the primitive instinct of return. A one-year old girl sits on the photographer’s chair and watches us from afar, in the immensity of time, with her transparent eyes, in black and white; today she is almost 90 and the granite house where she was born chases her dreams and in vain offers itself up to her quick and happy prancing on the verandas and stairs. The smell of wood, the touch of the doorknobs on the palm of our hands,
that is what the dumb art of builders and architects speaks of. A precise construction, which only mentions its language, its own specific essence.

To which place do we always wish to return? Your absolute desire is to have a house that never changes in a place that never alters, always the same. As you know, however, that is an illusion, it is impossible: nothing retains its shape. Nothing. Everything is constantly changing, even this road on which we cross the landscape, today is thus and tomorrow will be different.

As cidades mudam e os campos desaparecem, quando não lhes prestamos atenção. Tudo está em constante transformação, tudo aparece de forma minúscula e vai crescendo até se tornar gigantesco e desaparecer depois, para sempre. É esta a história do nosso desamparo. Quereres uma coisa que não mude é a utopia de quereres o que te proteja da própria mudança. Mas isso é medo disfarçado de força. Sofres porque perdeste tudo, todos os locais da tua memória, a casa da memória. Já não tens aonde regressar, um lugar que esteja sempre igual e imutável, de cada vez que lá voltas. Dizes que tens a absoluta necessidade de voltar para o sítio onde vieste a este mundo, onde foste uma criança feliz. Mas a idade não existe, apenas o desejo de parar o tempo, de o inverter, de ser de novo a criança que corria na varanda. Ou de tornar a ver o imenso pôr-do-sol que nos acompanha até adormecermos na nossa cama de férias. Sofremos por não sabermos a onde pertencemos, ou por não pertencermos a lugar nenhum. Se não conseguimos parar o tempo nem invertê-lo, só nos resta fugir dele. Onde o nosso olhar pousa, começa um mundo novo. Ter a capacidade de olhar para uma coisa pela primeira vez. O primeiro olhar. Tentamos reproduzir a pureza desse primeiro olhar nas coisas que fazemos para os outros. Mas os cheiros, as sombras das folhas nas paredes dos jardins, a frescura estonteante das madrugadas em silêncio nos campos acabados de sair da noite… nada disso volta, está perdido para sempre. Permanece apenas a casa, a construção, o trabalho dos arquitectos, dos construtores, dos pedreiros, dos carpinteiros. Mas, por vezes, tens medo de já não caberes nessa tua casa. Ou de teres deixado de lhe pertencer.

Uma casa são as palavras com que me descreves emocionadamente, e com toda a precisão, uma capela em forma de lágrima, formada pelos espaços vazios dos troncos que arderam totalmente. Talvez sejas tu a madeira que ardeu, deixando apenas o negro rasto de uma ausência.

Uma casa é uma visão: aquela enorme montanha que acompanha a minha vida desde criança. Aquela montanha. Uma casa é o riso e as vozes das crianças que a habitam. Uma casa é onde o sorriso antigo dos nossos Pais permanece sempre à nossa espera, de cada vez que chegamos. Uma casa é uma gargalhada, ou as vozes e o sorriso dos amigos. Procuramos uma casa que exista em todo o lado, sem tectos nem paredes. Nem alicerces. Nem portas fechadas. Uma casa é um abraço: o maravilhoso aroma da pessoa amada, a sua acolhedora temperatura, a comovente suavidade e doçura dos seus contornos, a sua pele, a sua voz, o seu olhar que nos envolve. O seu sorriso, que sempre reconheceremos. A sua mão no interior da nossa mão quando passeamos os dois. Esta é a casa mais eterna e a mais precária, a única que esperará sempre por nós. Nenhuma casa vem ter contigo. Para chegares a uma casa tens de caminhar, tens de a procurar. Podes conseguir encontrá-la, no tempo da tua vida. Ou não.

Rui Chafes
Lisboa, Julho 2010

 

Cities change and fields disappear when we pay them no attention. All is in permanent transformation, all appears in minuscule form and grows until it become gigantic, disappearing again forever. That is the story of our forlornness. Wanting something that does not change is the illusion of wanting what will protect you from change itself. That is fear disguised as strength. You suffer because you lost everything, all the places in your memory, the home of your memory. You no longer have somewhere to go back to, a place that is always the same, immutable, every time you return.
You say that it is absolutely vital that you return to the place where you were born, where you were a happy child. But age does not exist, only the desire to stop time, to turn back time, once again to be the child who ran on the veranda. Or once again to see the huge sunset that keeps us company until we fall asleep in our holiday bed. We suffer not knowing where we belong or for not belonging anywhere. If we cannot stop or turn back time, we can only run away from it.
A new world begins where our eyes rest. To be able to look at something for the first time. The first look. We try to reproduce the purity of that first look in the things we do for others. But the smells, the shadows of the leaves on the garden walls, the heavy freshness of the silent dawns in fields newly emerged from the night…none of that comes back, it is lost forever.
All that remains is the house, the construction, the work of architects, builders, stonemasons, carpenters. Sometimes, you are afraid that you will no longer fit inside your house. Or that you no longer belong to it.

A house is the words you used passionately and accurately to describe to me a chapel shaped like a tear, formed by the empty spaces of tree trunks that had burned to the ground. Maybe you are the wood that burned, leaving only the black streak of absence.

A house is a vision: that enormous mountain that accompanies my life since childhood. That mountain. A house is the laughter and the sound of the voices of the children who live there. A house is where that old smile of our parents is always waiting for us each time we arrive. A house is laughter, or voices and the smile of friends. We look for a house that exists everywhere, with neither ceiling nor walls. Nor foundations. No closed doors, even. A house is an embrace: the wonderful smell of your loved one, the welcoming warmth, the moving softness and the sweetness of their shape, their skin, their voice, their look that embraces us. That smile that we will always recognise. Their hand in our hand when we walk together. That
is the most eternal and the most precarious house, the only one that will always be waiting for us. No house will come to meet you. To reach a house you have to walk, you have to look for it. You can find it during your lifetime. Or not.

Rui Chafes
Lisboa, July 2010

Título
Belém Lima 12 Regards

Editor
José Manuel das Neves

Direcção de Arte
Gustavo Suarez

Design Gráfico
Pedro Cores

Coordenação editorial
Virgínia Palma

Coordenação Escritório
Ana Coutinho, Cláudia Lopes, Luísa Marques, Duarte Silva (Arquitectos)
Eduarda Freitas (Jornalista)

Retroversão Técnica
Incubadora-ID – Fernando Torres e Ana Torres

Retroversão
Alexandra Leitão

Revisão
Sérgio Simões

Paginação e Arte Final
Susana Monteiro

Foto Capa
Fernando Guerra – FG+SG Fotografia de Arquitectura

Pré-impressão
Uzina

ISBN
978-989-8456-00-7

Depósito Legal
318 522 / 10

Data de edição
Fevereiro 2011

Edição
Uzina Books

 

Title
Belém Lima 12 Regards

Editor
José Manuel das Neves

Art Director
Gustavo Suarez

Graphic Design
Pedro Cores

Editorial Coordination
Virgínia Palma

Office Coordination
Ana Coutinho, Cláudia Lopes, Luísa Marques, Duarte Silva (Arquitects)
Eduarda Freitas (Journalist)

Technical Retroversion
Incubadora-ID – Fernando Torres e Ana Torres

Retroversion
Alexandra Leitão

Revision
Sérgio Simões

Pagination and Art work
Susana Monteiro

Cover Photo
Fernando Guerra – FG+SG Arquitectural Photography

Pre-printing
Uzina

ISBN
978-989-8456-00-7

Legal deposit
318 522 / 10

Publishing date
Fevereiro 2011

Edition
Uzina Books

issue 44 June 2011

THE PERFECT MATCH

Brazilian hotelier Rogério Fasano’s latest creation is set among the rocky pampas of Uruguay. And the secret of his success? A creatively inspiring working relationship with designer Isay Weinfeld…

The entire project will be soon available at ultimasreportagens.com

 

FAD AWARDS 2011 FINALISTS


AIRES MATEUS
Lar em Alcácer do Sal
“La suma de una interesante estructura geométrica y una inteligente gestión del vacío convierten el edificio en un paisaje a la escala de
sus habitantes.”

JOÃO LUÍS CARRILHO DA GRAÇA
Núcleo arqueológico do Castelo de S. Jorge
“El magnífico juego de contrastes entre el nuevo volumen abstracto y las ruinas que hay que preservar permite percibir el espacio de las antiguas construcciones y recrear su atmósfera espacial.”


RICARDO BAK GORDON
2 Casas em Santa Isabel
“Una respuesta clara, sensible y cuidadosa en un emplazamiento
en el que escenario y platea se invierten, con lo que se consiguen unos espacios de una profunda intimidad a partir de unos patios estratégicamente colocados.”


SAMI Arquitectos
CreativeLab assinado por Tenente
“Un simplísimo trabajo que aprovecha todas las cualidades visuales y táctiles de una tela y sus pliegues para generar un sutil ámbito interior con diversos grados de transparencia.”

PROAP Landscape Architecture

 

(A sedução da) IMAGEM
Fernando Guerra

“Para a maioria das pessoas o que não foi fotografado de certa forma não existe, ou existe menos” Gerard Castello-Lopes

Os vinte anos a desenhar paisagem que este livro celebra são a procura de uma linguagem na arquitectura paisagista mas são também, principalmente, a face de uma paixão que tenho partilhado na colaboração com o João Nunes e equipa. Quando há uns anos recebi o contacto para fotografar um jardim perto de Lisboa, questionei-me da mesma forma quando me pediram para fotografar um arranha-céus: foram, na verdade, primeiras encomendas em áreas cuja escala e especificidade saía do meu trabalho diário. Fiquei apreensivo, não com o convite, mas com o método/resposta que iria usar para a abordagem deste trabalho. Depressa percebi que, da mesma forma que na arquitectura registamos pequenas histórias ao longo de um dia de sessão com narrativas sempre abertas e intencionalmente difusas, permitindo imaginar todas as narrativas que aí terão lugar; na fotografia da paisagem o mesmo pode acontecer. A fotografia de qualquer coisa é sempre crítica em relação ao que capta, assumindo-se ao mesmo tempo como uma forma de ficção. Comunicamos assim ideias, conceitos, para chegar à síntese de um projecto paisagístico em imagens. É essencialmente o que faço há vinte e cinco anos, naquilo que nasceu e se desenvolveu como um simples hobby. A fotografia de arquitectura tem vindo a tornar-se num ponto cada vez mais imprescindível no exercício da arquitectura e do desenhar a paisagem. São já muitas as vezes em que basta um bom fotógrafo orientar a sua objectiva para uma obra, para que esta passe a ser conhecida em todo o mundo. Pelo contrário, uma obra não fotografada torna-se inadvertida.

Não acredito na objectividade da fotografia. Por mais que muitos tentem apagar as contingências subjectivas da vida quotidiana que “contaminam” os espaços puros que os arquitectos desenham, uma imagem de um qualquer objecto arquitectónico, ou simplesmente de um objecto, resulta sempre da imposição de um ponto de vista. O que é essencial é que a mensagem seja clara, transparente, usando toda a habilidade e capacidade que o fotógrafo possui, nomeadamente as suas pernas para se deslocar. Não é no computador que se resgatam imagens ou se dá valor ao que não tem. A única chave para perceber a paisagem é percorrê-la fotografando, captando a espacialidade, deambulando, fazendo associações de ideias, de formas, de cores, de dimensões. É através deste movimento que descobrimos as infinitas variáveis do espaço projectado, as singularidades que fazem distinguir um espaço significante das existências insignificantes que invadem as nossas cidades.

O sintetizar de um projecto de uma paisagem é distinto do de fotografar arquitectura, mas mais em questões cromáticas, técnicas. Os edifícios mudam ao longo de um dia mas não mudam geralmente de forma, nem são afectados pelo vento ou a chuva. Os espaços desenhados pela Proap acolhem, abrigam e orientam. Uma paisagem degradada pode dar uma belíssima fotografia, enquanto um jardim cuidado pode ser quase impossível registar de uma forma objectiva, completa. Como fotografar o que é mutável, que cresce e morre ou simplesmente muda de cor? Como nos relacionamos com essa paisagem? Como a vemos e percorremos? Como a vivemos? E claro, a minha preocupação constante: como a representamos? Como se chega a uma imagem fotográfica que tem a difícil missão de representar uma paisagem nova? A fotografia de uma árvore não se encerra em si mesma, mas é uma forma de nos deixar sintetizar o sistema de ligações que compõem a paisagem. É mais uma peça da procura.

Essa procura é, por mim, sistematizada em dois processos elementares: observar e sintetizar. Com um olhar analítico, critico, mas sempre aberto à surpresa do instante da imagem captada. A forma é pessoal e dificilmente é explicada. É complicado racionalizar o que é espontâneo. Talvez na essência esteja uma curiosidade em ver coisas. Existe uma relação imaginada que estabelece a prazo uma ligação de intimidade com um objecto, neste caso com uma paisagem viva. Assim, trabalhando por camadas, fotografia após fotografia, cada uma fornecendo uma pista diferente de cor, textura ou simplesmente uma sombra de quem passa, a paisagem fotografada revela-se, e, da forma que a arquitectura é uma viagem no espaço, a melhor fotografia de uma paisagem, na sua completa bi-dimensionalidade, pode mostrar a sedução do desenho estimulando quem a vê, captando o genius loci, o sentido de lugar que define a nossa época. Tão simples aparentemente de sintetizar, é um trabalho de espera em que se procuram relações entre aquilo que se construiu e aquilo que, intacto, já existia. Percursos de uma realidade complexa em que o tempo nos mostra o que temos de ver, procurando não descurar algum detalhe que possa vir a revelar-se fundamental na compreensão do projecto – a exposição à luz (diurna/nocturna); o posicionamento preciso da objectiva; o movimento das pessoas, a “coreografia” do quotidiano. Intensificando a realidade “retratada” através da valorização do momento decisivo em que todos os elementos se parecem ter perfilado para serem fotografados. E, assim, reconfigurando o mundo que nos rodeia.

Em todos os trabalhos inspira-me a procura da síntese do que se sente, mas não se vê e que pode apenas ser sugerido: a emoção de um passeio através da sedução de uma fotografia.
No final do dia, as fotografias que fiz não são mais do que convites a uma visita. Seduzindo quem as vê, e as obras da Proap são sempre um convite a essa sedução, onde tenho tido o privilegio de passar longas horas, chamando trabalho ao prazer de um dia a deambular ao sabor do vento e do sol, a apreciar a vida como ela é, ou poderá ser, se quisermos.

 

(The seduction of) IMAGE
Fernando Guerra

“For the majority of people what has not been photographed, to a certain extent, does not exist or exists less” Gerard Castello-Lopes

The twenty years of landscape designing that this book celebrates are the search for a language in the landscape designed but they are also, principally, the face of a passion that I have shared in recent years of cooperation with João Nunes and his team. A few years ago, when I received a commission to photograph a garden near Lisbon, I questioned myself in the same way as when requested to go and photograph a skyscraper: “Why me?” In truth, they were the first commissions in areas whose scale and specific nature is beyond my daily work. I was left apprehensive, not with the invitation but with the methodology/response that I would use in approaching this highly specific and demanding example of photographic reporting. I swiftly understood that, in the same way as in architecture where we register small stories over the course of the day’s session with always open and intentionally diffuse narratives enabling the imagination of all the stories that will take place there, landscape photography may be subject to the same approach. When photographing anything what is actually captured is always critical while simultaneously conceived of as a form of fiction. We thereby communicate ideas, concepts to provide a summary of a landscape project in images. This is basically what I have been doing for the last 25 years and growing out of what was then but a simple hobby. The photography of architecture has becoming an ever more essential
facet to architectural practice and landscape design. There are now already many cases when it only needed a good photographer orienting their objectivity towards a work for this to become known worldwide. On the contrary, a work that is not photographed cannot get such attention.

I do not believe in the objectivity of photography. However much many strive to erase the subjective contingencies of daily life that “contaminate” the pure spaces that the architects design, an image of any architectonic object or simply an object, always results from the imposition of a point of view. What is essential is that the message is clear, transparent and incorporating all the skill and capacity the photographer possesses, particularly the legs to get around. It is not by computer that you save images or add on value to that which is worthless. The only key to understanding the landscape is to cover it while photographing, capturing its spatial dimension, wandering, making associations between ideas, shapes, colours and dimensions. Through such movement we may discover infinite variations in the projected space, the uniqueness that enables a significant space to be distinguished from all the insignificant existences that invade our cities.

The summary of a landscape project differs from its architectural photography but more in terms of chromatic and technical questions. The buildings change over the course of a day, but do not generally change in shape, nor are they impacted upon by the wind or the rain. The areas designed by PROAP welcome, shelter and nurture. A run down landscape might result in the finest of photographs while a tended garden might be practically impossible to record in any objective and complete form. How do you photograph that which is undergoing change, which lives and dies or simply changes colour? How do we relate to such landscapes? How do we see and travel them? How do we experience them? And naturally, my constant concern: how to represent them? How do we get to the photographic image that answers the difficult mission of representing the new landscape? A photograph of a tree does not encapsulate this in itself, but is a way of enabling a summary of the interconnected system that makes up the landscape. It is another step in the search.

This search is, to me, systematised into two elementary processes: observation and synthesis. With an analytical and critical perception, but always open to surprise in the instant of the captured image. The means are personal with any explanation difficult. It is complicated to rationalise that which is spontaneous. Perhaps in essence this is about curiosity in seeing things. There is an imagined relationship that over time establishes intimacy with an object, in this case with a living landscape. Hence, we work by layers, photograph after photograph, each providing a different clue to the colour, texture or simply the shadow of somebody passing by. The photographed landscape is revealed in the way that architecture is a journey through space with the best photograph of a landscape, in its complete bi-dimensionality, able to show the seduction of the design stimulating the viewer, capturing the genius locci, the sense of place that defines our era. So apparently simple to summarise, this is a work of waiting while seeking out relations between that which was constructed and that which, intact, already existed. Routes through a complex reality in which time shows us what we have to see, aiming not to overlook any detail that might prove fundamental in understanding the project: the exposure to light (day/nocturnal), the precise positioning of the objective, the movement of people, the “choreography” of the daily. Intensifying the reality “portrayed” through valuing the decisive moment in which every one of the elements seems to have fallen into line to be photographed. And thus the world surrounding us is reconfigured.

In each commission, I am motivated by the search for a synthesis of that felt but not that seen and that which may only be suggested: the emotion of a stroll through the seduction of a photograph.
At the end of the day, the photographs I have taken are no more than invitations to visit. Seducing those who see them, PROAP projects are always an invitation to this seduction, where I have had the privilege of spending long hours called work in the pleasure of a day spent wandering in the wind and the sunshine, appreciating life as it is or, if you wish, how we might like it to be.

 

PROAP Arquitectura Paisagista
Bárbara Silva

“Ao longo de vinte anos, João Nunes e a equipa da PROAP dedicaram-se a uma procura, quase obsessiva, de uma forma de dialogar e de comunicar com a paisagem de um modo compreensivo e participativo. Um dos conceitos que melhor poderia definir a arquitectura da PROAP é o desenho; já que este se converte no processo de criação mais importante. É nele que está a essência de cada projecto e de cada intervenção, que se define pela interpretação da natureza, onde cada paisagem é transformada através dos sentimentos e das sensações que um lugar é capaz de transmitir…”

 

PROAP Landscape Architecture
Bárbara Silva

“Over the past twenty years, João Nunes and the PROAP team have dedicated themselves to an almost obsessive search of a way to dialogue, to understand and to communicate with landscape in a perspective and involved manner. One of the concepts that better defines the architecture of this group of architects is their approach to the main design, given it becomes the most important process of creation. The essence of each project and each intervention is withheld in the design that defines the transformation of nature where each landscape is transformed by the feelings and sensations of each place…”

 

Edição
NOTE

Coordenação Editorial
Bárbara Silva

Traduções
Mariana Wallenstein
Kevin Rose

Revisões
Tiago Campos
Carla Silva
Cristina Cavallotti

Textos
João Nunes
Gonçalo Byrne
Ricardo Bak Gordon
Pedro Costa
Fernando Guerra
Manuel Aires Mateus
entre outros…

Edição Gráfica
Prude

Impressão
Peres-SocTip, S.A.

Data da Edição
Dezembro 2010

Depósito Legal
320488/10

ISBN
978-989-97072-0-7

 

Publisher
NOTE

Editorial Coordination
Bárbara Silva

Translations
Mariana Wallenstein
Kevin Rose

Revisions
Tiago Campos
Carla Silva
Cristina Cavallotti

Texts
João Nunes
Gonçalo Byrne
Ricardo Bak Gordon
Pedro Costa
Fernando Guerra
Manuel Aires Mateus
among others…

Graphic Editing
Prude

Printing
Peres-SocTip, S.A.

Publishing Date
Dezembro 2010

Dutie Copies
320488/10

ISBN
978-989-97072-0-7

Cover April 2011

Residências assistidas em Alcácer do Sal
Aires Mateus Arquitectos

Centenary of Higher Education Institutions

 

Dados técnicos / Technical data

Emissão / Issue
2011 / 03 / 22

Selos / Stamps
2x €0,32 – 2x 370 000
2x €0,80 – 2x 155 000

Design
José Brandão / Susana Brito

Agradecimentos / Acknowledgments
Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG); Instituto Superior Técnico (IST)
Universidade de Lisboa (UL); Universidade do Porto (UP)

Reprodução autorizada pelos CTT Correios de Portugal

 

Créditos / Credits

Selo Universidade de Lisboa – Fachada do edifício da Reitoria, foto Fernando Guerra; Desenho Inciso, J. Almada Negreiros, foto UL

Selo Universidade do Porto – Fachada do edíficio da Reitoria, foto Fernando Guerra; Queratoscópio de Plácido (Disco de Plácido), Museu de História da Medicina “Maximiano Lemos”, Faculdade de Medicina da UP

Selo Instituto Superior Técnico – Dr Alfredo Bensaúde, foto in revista “Os Açores”, Julho 1928, arquivo IST; Fachada do Pavilhão Central, Campus Alameda, foto Fernando Guerra

Selo Instituto Superior de Economia e Gestão Edifícios Francesinhas 1 e 2 e pormenor de painel de azulejos, Convento das Inglesinhas (Quelhas 6), fotos Fernando Guerra

Cover April 2011 | USA

Project House in Leiria, Portugal
Architect Aires Mateus & Associates

By David Cohn

The Lisbon-based brothers Manuel and Francisco Aires Mateus push their residential designs out of the realm of the ordinary toward the surreal and dreamlike. In one project, they arranged the living room furniture of a beach house on a floor of deep sand. In another, a renovated winery, they suspended the volumes of the bedrooms over the living space like geometric stalactites. And in this project for a young family outside the small city of Leiria, they created the perfect archetypal form of a house, straight out of a Monopoly game box or a fairy tale. An apparently solid volume wrapped completely in white plaster — pitched roof and all — sits on the green plinth of an extended lawn, sharply profiled under the Portuguese sun (…)

Entrevista a Fernando Guerra por Ana Filipa Amaro

 

Arquitecto de formação, Fernando Guerra trocou a régua e o esquadro pela máquina fotográfica. Perdeu-se um arquitecto, ganhou-se um dos melhores fotógrafos de arquitectura contemporânea em Portugal.

Chega de carro, que estaciona perto da Escola de Música, em Benfica. Sai meio apressado, cumprimenta a equipa da Fora de Série e fica com os olhos pregados às paredes da obra projectada por João Luís Carrilho da Graça e por ele fotografada. “A cor desapareceu, não imaginam como este amarelo era vivo…”, diz Fernando Guerra, ainda meio desnorteado com a forma como o tempo castigou não só as paredes, mas também o chão e as escadas em madeira e os jardins que compõem uma outra música, esta arquitectural.
Mas é por isto mesmo que o trabalho de Fernando Guerra é especial. As fotografias que tira dos trabalhos dos arquitectos são momentos que se eternizam no tempo e onde o amarelo não deixa nunca de ser “vivo”. O nome e o trabalho do fotógrafo português de arquitectura são, há já alguns anos, incontornáveis. Não só em Portugal mas no resto do mundo, com provas dadas nos seus quatro cantos. Com um olhar rigoroso, cioso do detalhe, Fernando Guerra trabalha a luz como poucos, a luz que lhe dita os dias, a meteorologia com quem joga ao jogo do gato e do rato.

Em conjunto com o irmão, Sérgio Guerra, Fernando leva a assinatura da empresa, FG+SG, a ser procurada por arquitectos mundiais como Zaha Hadid ou Richard Meier, e arquitectos nacionais como Álvaro Siza ou Nuno e José Mateus, do atelier ARX; a ser publicada por revistas internacionais como a “Wallpaper*”; ou a ser procurada no site ultimasreportagens.com como quem procura uma obra de arte. De arquitectura. De fotografia, claro.

Tem alguma história deste lugar, a Escola de Música, para contar?
É um privilégio fotografar a obra do João Luís Carrilho da Graça. Um dia, quando visitámos esta escola com um grupo de espanhóis, o João Luís confidenciou-me, preocupado, que as minhas fotografias eram tão bonitas que tinha receio que as pessoas ao visitarem a obra ficassem desiludidas. Seria impossível que isso acontecesse, dado o nível raro da obra deste arquitecto, mas foi um dos maiores elogios que podia ter ouvido.

Fotografia e arquitectura. Em que medida é que estas duas artes se tocam?
Para mim não só se tocam, como já se fundiram há muitos anos. Tenho dificuldade em separá-las, por isso nem tento. Mas olhando de uma forma mais distante, têm, por exemplo, em comum, o rigor com que precisam de ser feitas. Talvez esse rigor as torne áreas menos artísticas do que outras, já que existe um sentido prático ou um objectivo em cada uma delas e não seguem apenas a vontade do artista.

Estudou arquitectura por gosto ou por ser uma “profissão à moda antiga”?
Foi uma escolha muito natural. Desde miúdo que queria desenhar casas. Nunca pensei em fazer outra coisa. Tive influência, provavelmente, do meu pai, que é arquitecto, e o facto de ter crescido a vê-lo trabalhar no seu atelier e de o acompanhar nas viagens de trabalho que fazia.

Chegou a trabalhar como arquitecto?
Quando me formei, em 1993, fui para Macau para trabalhar seis meses num atelier local. O meu primeiro trabalho foi escolher as cores para os edifícios de uma nova cidade que ia crescer entre a ilha da Taipa e a de Coloane. Altamente intimidatório para começar. Acabei por lá ficar cinco anos, que passei numa rotina de trabalhos que adorava. E se, no entanto, não os fotografava, não passava um dia sem fazer fotografias na rua, sem encomendas ou objectivos especiais.

O que aconteceu para mudar para a fotografia?
Não existe um momento em que possa dizer que comecei apenas a fotografar. Até porque já o faço desde os 16 anos. Há 24 anos que ando com uma máquina na mão. Mas só há 11 anos, quando regressei de Macau, é que comecei com o meu irmão a propor aos principais ateliers fazer fotografias de obras. Com um mercado quase inexistente, poucas revistas e o trabalho a ser quase todo feito por um fotógrafo no Porto e outro em Lisboa, foi complicado começar. Por isso, mudámos a forma de trabalhar. Fotografava primeiro e ia ter com os ateliers depois, já com o trabalho pronto. Foi um investimento grande, muito pessoal, mas que valeu a pena. Aos poucos começámos a ter mais trabalho. E fomos crescendo. Hoje, quem começa nesta actividade faz um site e fica à espera que o telefone toque ou que o email chegue. O mercado existe. É a principal diferença.

Tem um curso de fotografia ou é tudo instintivo?
Nunca tirei um curso de fotografia. A fotografia tem um lado técnico que se aprende rapidamente. O mais importante na fotografia é saber ver. E isso não se ensina. Pode-se treinar e metodizar a caça das imagens, mas esse percurso deve ser pessoal.

Em que medida é que a fotografia de arquitectura é especial? O que diz a quem tem tiradas do género: “andam a fotografar paredes”?
Num mundo construído sobre a lógica da imagem, a fotografia de arquitectura ajuda a construir a arquitectura. O que não é pouco. É especial por ser um elemento de comunicação essêncial para o arquitecto que necessita de divulgar a sua obra e essêncial para o público que a quer ver, mas que muitas vezes não a pode visitar, quer por se tratar de uma obra privada, quer pela distância. Este tipo de fotografia não muda o mundo, como uma fotografia de um conflito pode ajudar a fazer, mas faz parte da própria arquitectura como elemento de promoção, documentação e investigação. As fotografias fornecem provas. Qualquer coisa de que se ouve falar, mas de que se duvida, parece ficar provado graças a uma fotografia. Numa das variantes da sua utilidade, uma imagem incrimina. Numa outra versão da sua utilidade, uma fotografia justifica. Mas sim, no final do dia posso dizer que passei o dia a fotografar paredes. Mas digo-o com muito orgulho.

Tenta sempre nos seus trabalhos introduzir o elemento humano. Qual é a importância de o ter?
Um dos motivos para não ter começado a trabalhar em fotografia de arquitectura mais cedo foi o facto de este tipo de fotografia ser tradicionalmente aborrecido, e como arquitecto sentia isso muito próximo. A fotografia de arquitectura tradicional baseou-se quase sempre em imagens despidas de gente, frias, quase clínicas. Passagens rápidas por uma obra. Sem tempo para detalhes que, muitas vezes, não só enriquecem a obra como lhe dão significado. Por outro lado, sempre fiz imagens na rua de situações que não se repetiam facilmente, fosse o passar de uma pessoa, de um gato, de uma bicicleta, de uma nuvem, ou de miúdos que brincavam. Instintivamente acabei por juntar o rigor que precisamos de ter como base na fotografia de arquitectura com o espontâneo da fotografia de rua. No entanto, não sei se tenho um estilo definitivo, até porque tento mudar a forma como fotografo todos os dias.

Como “internacionalizou” o seu nome?
Além de não tirar férias há uns anos, talvez o que mais tenha ajudado tenha sido a comunicação do que fazemos ou a forma como a fazemos. Em 2003, e numa altura em que todos os sites de fotógrafos tinham uma senha para entrar nos respectivos sites, criámos o ultimasreportagens.com, que começou por ser uma pequena e despretensiosa biblioteca de arquitectura contemporânea portuguesa e que, com os anos, se tornou, de alguma forma, numa referência com quase 500 trabalhos ‘online’. A internacionalização foi, como tudo o resto na FG+SG, muito gradual e nunca procurada como um fim. Aconteceu simplesmente. Há uns anos quando começaram a aparecer-me encomendas de clientes como Zaha Hadid, I.M. Pei, Jordi Badia, Richard Meier e Isay Wenfield, apercebi-me que as publicações, tanto em papel, como na Web, começavam a dar alguma visibilidade ao trabalho da FG+SG e que o retorno eram novas encomendas. Hoje em dia, passo uma parte significativa do mês fora de Portugal em reportagens diversas em que tanto fotografo uma casa familiar, um hotel de luxo ou um aeroporto. O que é bom, já que existem 365 dias de sol num ano e eu só preciso de estar no sítio certo, que nem sempre é em Portugal. Independentemente de ser em Portugal onde mais gosto de trabalhar.

Qual o trabalho que marcou a sua carreira?
É difícil a escolha, mas talvez destaque dois trabalhos: A casa Toló, do Alvarinho Siza Vieira, e uma obra do seu pai, Álvaro Siza, na Coreia, uma pequena galeria num jardim perto de Seul. Não só pelas imagens que correram bem, mas por me terem ajudado a chegar a muitos editores internacionais numa altura em que um envio de um email acabaria, geralmente, na caixa de ‘spam’. Essa atenção permitiu-me estabelecer relações de trabalho onde não existiam. Só a casa Toló teve mais de 60 publicações nacionais e internacionais e dezenas de capas.

É essencial que um fotógrafo de arquitectura seja também arquitecto?
Não é condição mas, regra geral, todos os fotógrafos que conheço e que fazem este tipo de trabalho o são. Há uma predisposição para olhar para a arquitectura de uma forma mais clara e directa. É relativamente fácil como arquitecto perceber não só o projecto, mas o conceito da obra, o essencial a fotografar. Depois, só é preciso saber fotografar.

O tempo, as condições meteorológicas são o pior inimigo de um fotógrafo?
Para mim são. O trabalho depende tanto da obra como da meteorologia. A única coisa que pode comprometer a criatividade num trabalho é a falta de boa luz. Não há desculpas para um trabalho ficar menos bem.

Não sente que pode ter passado ao lado de uma grande carreira enquanto arquitecto?
Perguntam-me muitas vezes se não tenho saudades de projectar. E digo sempre que sim. Mas projectar é uma coisa e acompanhar uma obra durante uns 3 ou 4 anos é outra. Estou demasiado habituado ao facto de, passado um mês da sessão, ter mais uma obra feita em vez de ter de esperar 5 anos e passar por burocracias de regulamentos e legalizações. No entanto, não estou reformado, não me sinto de todo assim.

Tem trabalhos publicados na “Wallpaper*”, uma das mais famosas revistas de arquitectura. As revistas são a maior fonte de trabalho?
Sempre vi as publicações mais como parceiras na comunicação do projecto de um cliente, do que como fontes de trabalho. É raro ter uma encomenda de uma revista, apesar de, curiosamente, a “Wallpaper*” ser uma das que mais me encomenda trabalhos, que vão desde fotografar um hotel em Évora ao lançamento de um novo automóvel em Espanha.

Pergunta da praxe: Quem é o seu arquitecto favorito, português e estrangeiro? E o fotógrafo?
Português, o arquitecto Álvaro Siza, com quem tenho o privilégio de trabalhar há alguns anos. Estrangeiro, o arquitecto brasileiro Isay Wenfield. Quanto aos fotógrafos, tenho muitas referências, mas aquele que mais influenciou a minha forma de olhar o mundo talvez seja o David Alan Harvey, um fotógrafo da Magnum.

Um lugar “arquitectónicamente” especial.
A minha casa, porque, provavelmente, é onde passo menos tempo do que gostaria. Fica perto de Lisboa e é um projecto meu, mas nunca a fotografei. E provavelmente não o vou fazer. Talvez não precise. Está sempre ali…

Portugal é um lugar fácil para se trabalhar fotografia de arquitectura?
Portugal é não só um lugar fácil como um dos melhores. Não só temos uma arquitectura única e internacionalmente reconhecida, como o país se atravessa de uma ponta à outra em poucas horas.

O que lhe dá mais “gozo” fotografar?
Tanta coisa! O dia-a-dia já me dá imenso gozo registar. Mesmo que não esteja a fotografar comercialmente, até uma ida para o atelier pode servir para um registo qualquer que me dê prazer. E, claro, as viagens, as reportagens que saem da minha rotina arquitectónica, como os trabalhos que faço de moda para o meu amigo José António Tenente, ou, simplesmente, fotografar as minhas filhas, tudo sabe bem para depois regressar às fotografias de casas.

Quando deixa a máquina fotográfica em casa?
Nunca consigo deixar a máquina em casa. Nem mesmo quando vou às compras mais banais. Já faz parte de mim. Mesmo que nunca a use, está ali comigo.

Está com algum projecto em mãos?
Várias monografias sobre arquitectos portugueses, novas edições limitadas de fotografias e muitas viagens para novos trabalhos. É um desafio, mas é essencial não parar de pensar e reinventarmo-nos para sobreviver. Ninguém vive da fama nesta área. Todos os dias são uma prova nova, onde os “êxitos” passados nada adiantam nessa sessão. Superá-la é a única resposta possível.

Últimas reportagens

recent work by Fernando Guerra


A mais completa biblioteca online de imagens da arquitectura contemporânea portuguesa.
Últimos projectos nacionais.
Obras de referência internacionais.
Artigos especiais.
Publicações.
Visite-nos regularmente para novas imagens.

Últimas Collins dictionary
1. last 2. latest, most recent; Latest is the superlative of late. adj You use latest to describe something that is the most recent thing of its kind. 3 adj You can use latest to describe something that is very new and modern and is better than older things of a similar kind.

LOJAS

REDES SOCIAIS

NEWSLETTER