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Museu Mimesis, Paju Book City, Coreia do Sul | Álvaro Siza

Mimesis Museum, Paju Book City, South Korea | Álvaro Siza

Museu Mimesis, Paju Book City, Coreia do Sul
Álvaro Siza com Carlos Castanheira e Jun Sung Kim

Um gato virou museu.

Era uma vez um imperador chinês que gostava muito de gatos e lembrou-se de chamar o pintor mais conceituado do império para lhe desenhar um gato. Ao artista agradou-lhe a ideia e prometeu que iria trabalhar no assunto. Passou um ano e o imperador lembrou-se que o pintor ainda não tinha entregue o desenho do gato. Chamou-o: Qué do gato? Está quase, está quase! disse o artista. Passou mais um ano e outro, e outro, e a cena repetia-se. Passados sete anos a paciência do imperador esgotou-se e mandou chamar o pintor. Qué do gato? Já passaram sete anos, prometeste, prometeste e ainda não vi gato nenhum! O pintor pega numa folha de papel de arroz, num tinteiro de tinta da china e num daqueles pincéis que só existem no oriente e… Num gesto elegante e sublime desenha um gato, que não era um gato mas o gato mais belo que jamais foi visto. O imperador ficou extasiado, deslumbrado, e perante tanta beleza, não se esqueceu (coisa que hoje em dia deixou de ser hábito) de perguntar ao artista quanto queria por tão belo desenho. O pintor pediu uma soma que espantou o Imperador. Tanto dinheiro por um desenho que tu fizeste em dois segundos, à minha frente! disse o imperador. Pois é Excelência, mas andei sete anos a desenhar gatos, disse o pobre do pintor.

O projecto para o Museu Mimesis, já em construção na nova cidade Paju Book City na Coreia do Sul é um gato. O cliente não esperou sete anos para ter o seu desenho do gato, mas o Álvaro Siza desenha há mais de sete anos. Nunca viu um gato coreano, porque nunca lá esteve.

Num dia expliquei-lhe o local e mostrei-lhe uma pequena maqueta do terreno, dos limites e das envolvências. Num gesto único saiu um gato. O Mimesis é um gato. Um gato enrolado e também aberto, que se espreguiça. Está lá todo, basta ver, rever. Os colaboradores não percebiam, no início, que aquele esquisso, o gato, era, é um edifício. Eu já vi muitos desenhos de gatos, deslumbro-me sempre, não me habituo, quero ver mais gatos, mais esquissos de gatos, pois já se passaram muitos sete anos.

Em arquitectura depois do esquisso vem a tormenta. Segue-se o estudo prévio, as maquetas, os desenhos, as correcções destes, as dúvidas, novos desenhos e novas maquetas, a apresentação ao cliente que já tinha visto outros projectos mas que não escondeu a sua surpresa. Ficou aprovado e prosseguimos com as fases habituais que na Coreia são mais curtas e desburocratizadas.

O programa não se alterou mas é necessário realizar acertos de evolução do processo, introdução de materiais, técnicas e infra-estruturas, códigos de representação para que todos percebam, numa tentativa que nada falhe. Na cave estão os arquivos e áreas técnicas, talvez uma extensão do espaço expositivo, pois já é hábito nos museus projectados pelo Álvaro Siza. O piso térreo é espaço de recepção, distribuição, áreas de exposições temporárias e um cafetaria/restaurante e necessárias infra-estruturas. Nas mezzanines estão localizadas as áreas administrativas, circulação e área de arquivo administrativo e instalações sanitários de funcionários. O piso superior é espaço expositivo.

A luz, sempre a luz, estudadíssima, tanto a natural como a artificial, pretende-se essencial, que permita ver e que não se veja. Maquetas e mais maquetas, nalgumas entra-se dentro. Imagens em 3D, também. A forma será dada por betão aparente, cinza claro, cor de gato. Por dentro o branco das paredes e tectos, do mármore que se pretende de Estremoz e o mel da madeira de carvalho. Madeira nos caixilhos interiores, vidro. Nos exteriores madeira e aço pintado, vidro cristalino.

A obra prossegue, nós também, é assim na Coreia. A obra é de difícil execução, preocupa-nos o empreiteiro, os vários envolvidos. Os nossos amigos e partners, entusiasmados, tranquilizam-nos.

Desenhar um gato é mesmo muito difícil, experimentem! Pode demorar sete anos! Pelo menos!

Carlos Castanheira

 

Mimesis Museum, Paju Book City, South Korea
Álvaro Siza with Carlos Castanheira and Jun Sung Kim

A cat has become a museum.
There once was a chinese emperor who liked cats a lot, and one day he called upon the most famous painter in the Empire and asked him to paint him a cat. The artist liked the idea and promised that he would work on it. A year passed and the Emperor remembered that the painter still had not given him the painting of the cat. He called him: What of the cat? It is nearly ready, answered the artist. Another year went by, and another and another. The scene kept repeating itself. After seven years, the Emperor’s patience came to an end and he sent for the painter. What of the cat? Seven years have gone by. You have promised and promised but I still haven’t seen one! The painter grabs a sheet of rice paper, an ink well, one of those brushes like you can only get in the East and… in an elegant and sublime gesture he draws a cat, which was not just a cat but only the most beautiful cat ever seen. The Emperor was ecstatic, overwhelmed with such beauty. He did not neglect (which is no longer the case nowadays) to ask the artist how much he would charge for such beautiful drawing. The painter asked for a sum which surprised the Emperor. So much money for a drawing that you did in two seconds, in front of me? said the Emperor. Yes Excellency, that is true, but I have been drawing cats for seven years now, replied the poor painter.

The project for the Museum Mimesis, already under construction in the new town of Paju Book City in South Korea, is a cat. The client didn’t have to wait for seven years for his drawing of a cat, but Álvaro Siza has been drawing cats for over seven years now. He has never seen a Korean cat, because he has never been there.

In one day I briefed him on the site, and brought along a small site model, showing the boundaries and the immediate context. In one single gesture, a cat was drawn. The Mimesis is a cat. A cat, all curled up and also open, that stretches and yawns. It’s all there. All you need to do is look and look again. At first the design team members could not understand how that sketch of a cat could be a building. I have in my days seen many sketches of cats, and am always overwhelmed by them, can’t get tired of them. I want to see more cats, more sketches of cats, for several seven years have gone by.

In architecture, after an initial sketch comes the torment. The initial design, models, drawings, corrections to these, doubts, new drawings, new models, a presentation to the client, who had already seen other projects but could not conceal his surprise at this one. Once approved, we progressed the project on through the usual steps, which in Korea are shorter and less bureaucratic.

The brief has not been altered, but it is necessary to make some adjustments as part of the evolution process. To think of materials, techniques, infra-structure, representational conventions, so that everyone understands, in an attempt to make everything work out. In the basement we will have the archives, the service area, maybe an extension to the exhibition area, as is becoming a habit in museums designed by Álvaro Siza. The ground floor is a space for arrival and distribution, areas for temporary exhibitions and a café/restaurant with all necessary back up. Administration areas, staff circulation, area for the administrative archive and staff toilets are located in the mezzanines. The top floor is for exhibition space.

Light, always light, so carefully studied. Both natural and artificial is seen as essential. Allowing to see without being seen. Models and more models were constructed, some of which you could enter into. Also 3D images. Form will be given by cast concrete, light grey, the colour of a cat. Inside, the white of the walls and ceilings, of the marble, which we hope will be from Estremoz and also the honey colour of Oak. Timber for the internal frames, and glass. As for the external windows, timber, painted steel and crystalline glass.

The building progresses, so do we, as it is in Korea. It is a technically difficult job; we were concerned at the quality of the contractor and sub-contractors involved. Our friends and partners are enthusiastic and reassure us.

To draw a cat is really difficult, try it! It can take seven years! At least!

Carlos Castanheira

 

 

Museu Mimesis

O Museu é destinado a uma colecção particular de Arte Contemporânea.
Situa-se numa zona em desenvolvimento da cidade de Paju, Coreia do Sul.
O programa previsto ocupa cave, dois pisos e mezanino.
Cave – depósitos e áreas técnicas.
Rés-do-chão – recepção, espaço para exposições temporárias e cafetaria.
Mezanino – área administrativa e loja.
Piso Superior – área expositiva.
O volume edificado, definido por superfícies curvas em betão branco, desenvolve- se em torno de um pátio, aberto num dos extremos.
A iluminação natural e artificial das áreas expositivas é, na maior superfície, superior e indirecta.

Porto, 14 de Abril de 2007
Álvaro Siza, Arquitecto

 

Mimesis Museum

This Museum is destined to a particular collection of Contemporary Art
It is located in a growth area of the Paju city, in South Korea.
The foreseen program occupies one underground floor, two floors and mezzanine.
Underground floor – deposits and technical areas
Floor 0 – reception, temporary exhibitions space and cafeteria
Mezzanine – administrative area and store
Superior floor – exhibition area
The edifying volume, defined by bend surfaces in white concrete, growths around a yard, open in one of the extremity .
The natural and artificial illumination of the exhibition areas it is, in the biggest surface, superior and indirect.

Porto, 14 de Abril de 2007
Álvaro Siza, Arquitecto

 

“We made very large models, so that even in Porto I could enter the museum, look up and control the ceilings,
work on the light and configure the spaces,” says Siza. “I could work quite freely.”
from inconeye

 

 

Mimesis em Outubro de 2008 | Mimesis in October 2008

 

Projecto:  Mimesis Museum
Dono de Obra: Open Books Publishing Co.

Localização: Coreia do Sul, Paju Book City
Período de Projecto: 01.2006 / 09.2007
Período de Construção: 10.2007 / 10.2009

Arquitectos: Álvaro Siza com Carlos Castanheira e Jun Sung Kim
Coordenador de Projecto: Dalila Gomes
Coordenador de Obra: Young-il Park
Colaboradores: Chungheon Han; João Figueiredo (3D)

Estrutura: Gayoon ENC Jungang Constructural Engineering Consultant

Instalações Mecânicas: Hansan Engineering Co.
Electricidade: Jung-Myoung Engeneering Group Co.
Construção: Hanool Construction Co.

Maqueta: Álvaro Negrelo
Fotografia: Fernando Guerra – FG+SG Fotografia de Arquitectura

 

 

Project: Mimesis Museum
Client: Open Books Publishing Co.

Location: South Korea, Paju Book City
Design Period: 01.2006 / 09.2007
Construction Period: 10.2007 / 10.2009

Architects: Álvaro Siza with Carlos Castanheira and Jun Sung Kim
Project Coordinator: Dalila Gomes
Construction Coordinator: Young-il Park
Collaborators: Chungheon Han; João Figueiredo (3D)

Structure: Gayoon ENC Jungang Constructural Engineering Consultant

Mechanical Installations: Hansan Engineering Co.
Electricity: Jung-Myoung Engeneering Group Co.
Construction Company: Hanool Construction Co.

Model: Álvaro Negrelo
Photography: Fernando Guerra – FG+SG Fotografia de Arquitectura

 

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