Book 04 – Santa Marta Lighthouse Museum, Cascais | Aires Mateus
POSTAIS Escrevo este pequeno texto no meu último dia a fotografar o Farol Museu de Santa Marta. Na verdade, os trabalhos de fotografia nunca ficam finalizados. Perceber qual o melhor momento para acabar de fotografar uma obra, é algo que se aprende, e, de preferência, pratica-se diariamente; mas numa encomenda como esta, a obra torna-se na desculpa necessária para outros dias de evasão e fotografia. Nestes casos é sempre possível fazer mais. Ou, talvez, ver mais… Seguir, fotografando, a obra do atelier Aires Mateus é um privilégio pelo acesso livre a belíssimos espaços privados e por ser um tipo de arquitectura que constitui um excelente palco para o meu trabalho, pela forma como vejo a arquitectura e a registo. Talvez por se basear no conceito de um “dia na obra”, de requerer uma entrega e permanência no sitio e do registo atento da mudança da luz durante o dia. Um olhar sobre o passar do tempo no edifício. O Farol Museu de Santa Marta é o tipo de projecto que me envolve e fornece pistas; e, como em qualquer museu aberto ao público, dá-me actores de ocasião, protagonistas de um instante que é meu e que gosto de partilhar mais tarde. São já alguns anos a fotografar as obras de Aires Mateus com casas, edifícios de escritórios, museus e exposições. O Farol Museu foi mais uma missão cumprida (ou, como sempre… incompleta) em dias soltos e interrompida com viagens e outros trabalhos, mas onde regressei pelo prazer de fotografar, como se fosse um descanso fazê-lo. E para mim é-o certamente. E, para mais com o prazer que é ganhar as novas imagens do dia e adicioná-las como camadas de uma história que se conta num slide show do ultimasreportagens ou nas páginas de uma revista. Ou, neste caso, na forma de um livro. Essa história não tem de ser antropológica, factual ou interpretativa, mas procura de algum modo mostrar vários momentos da existência da obra, como um arqueólogo que percorre os seus passados para justificá-la no presente. Mesmo que não seja preciso fazê-lo. Chegam mais visitantes enquanto acabo estas linhas sentado na esplanada do Farol. Quantos irão visitá-lo por verem estas imagens? Ou, para quantos serão estas imagens o único contacto com a obra? E que obra é esta? No fundo gosto de ser um fotógrafo de postais. Fernando Guerra
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POST CARDS
I write this small text on my last day of taking photographs at the Lighthouse Museum before the publication of this book. Photography jobs are never truly finished, and knowing when to stop is an acquired skill, preferably practised on a daily basis. However, with a commission such as this, work becomes a necessary evasion for additional days of photographing. In such cases, one can always do more. Or, perhaps, see more…Photographically accompanying the work of Aires Mateus’ studio is a privilege. It is due as much to free access to the exquisite private spaces as to being the kind of architecture that serves as an excellent platform for my work, in the way I see and record it. Perhaps because it is based on the concept of “a day at the site…”, it requires a permanent presence as well as attention to changes in the light throughout the day. A view of the passing of time in the building. The Santa Marta Lighthouse Museum is the type of project that immerses me and provides leads, and just like in any museum open to the public, it supplies me with random actors, protagonists that are part of an instant that belongs to me, that later I like to share.A few years have gone by of Aires Mateus photographs depicting certain houses, office buildings, museums and exhibitions. The Santa Marta Lighthouse Museum was more of a mission accomplished (or as always…unaccomplished) on random days, interrupted by trips and other work, but where I returned for the pleasure of photographing, as if it were a form of relaxation to do it, which for me it certainly is. Even more so through the enjoyment of adding the day’s new images like layers of a story told as a slideshow in ultimasreportagens or in the pages of a magazine. Or, in this case, in the form of a book. The story does not have to be anthropological, factual or interpretative, but it somehow attempts to touch various moments in the existence of the work, like an archeologist who goes through his past to justify his work in the present. Even if it is not necessary.More visitors arrive as I finish these lines, sitting in the Lighthouse’s outdoor café. How many will visit it after seeing these images? Or, for how many will this be their only contact with the structure. And what sort of structure is it? I already have many photographs…I have had good and bad weather. The beginning and end of the day. I make the mistake of one who wanted a restaurant and not a museum, I photographed a couple’s disdainful exchange and the quick passing of another on hired bicycles. I photographed families arriving and waiting for the museum’s employees to receive them. Or the eternal patience of the cleaning woman who picks up the leaves that fall during the day from the neighbour’s tree. On the limestone, I also caught the shadows of passers-by and the detail of reflective tiles mirroring the sea. Ever present in the background stood the structure with its white boxes or shared walls, the shadows of the low battery and at the end of this passage that is almost an open-air corridor dug out of a rock, the Lighthouse. In the end, I like being a post-card photographer. Fernando Guerra |
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TEXTOS
Memória Reabilitação das fortalezas marítimas de Cascais Farol museu de Santa Marta Cascais, 7 de Junho de 2008: 16.35h Postais |
TEXTS
Memory Renovation of the coastal forts of Cascais 16:35, 7th June 2008, Cascais Post cards |