FG+SG fotografia de arquitectura | architectural photography

GONÇALO BYRNE | Estoril-Sol Residence

Estoril-Sol Residence
por Gonçalo Byrne

“O projecto surgiu-me, desde logo, como muito complexo. Inserido na boca do Vale da Ribeira da Castelhana, que é um local muito curioso, porque gera um microclima. A relação do mar com o vale era o grande desafio, mesmo numa perspectiva histórica. Na segunda metade do século XIX, a Casa de Palmela comprou aqueles terrenos, com cerca de um quilómetro de profundidade. Aí se mandou construir uma casa, um palácio muito interessante sob o ponto de vista arquitectónico, desenhado por um arquitecto inglês da escola de William Morris. A partir daquela casa, pegam no terreno por ali acima e dão origem ao Parque Palmela, uma unidade de grande riqueza natural, perpendicular à costa, que subsiste até à chegada do caminho-de-ferro. É este que vem cortar a relação entre o palácio e o Vale. Esta ruptura é reforçada mais tarde com a avenida Marginal, já no tempo do Estado Novo. A relação entre o mar e a Falésia foi progressivamente cortada, a clivagem aumentada.

Devido ao processo galopante de urbanização, o Parque vai ficando confinado ao vale. É neste contexto que surge o Hotel Estoril-Sol, um edifício historicamente com algum interesse, mas com grandes problemas de implantação, por causa da sua relação com a Falésia. No fundo, acabou por criar uma espécie de tampão compacto visual. A minha questão era como gerir aquela área sem criar um tampão. Perguntei-me: o que acontece quando eu tirar o Hotel? A comparação é semelhante à extracção de um dente. O cenário é atemorizador. Fica a Falésia em desequilíbrio, completamente betonada.

O nosso projecto passou por duas condições fundamentais. A primeira pode descrever-se deste modo: tratar a cicatriz, dar uma inclinação mais suave à Falésia, girando-a para o Vale. Ao mesmo tempo replantar toda esta frente de verde, duplicando a frente de coberto vegetal para o mar.

A segunda questão: trabalhar o conjunto do Estoril-Sol Residence como uma espécie de grande escultura urbana à escala da topografia do vale. É um todo edificado que assume claramente a diferença entre a cota do mar e a cota alta do Vale, e que é modelado com movimento e aberturas suficientemente grandes para se interpenetrarem com aquela superfície verde do Parque, que se pode ver desde Cascais, desde o mar, como aumenta. Procurei terminar com a ideia de tampão, de torre. Regenerando o tecido da Falésia, o projecto tem quase mais uma dimensão paisagística, geográfica, que arquitectural. Dialogar com esta grande unidade entre a Falésia, o Vale e a Natureza, articulando-a como uma Escultura frente ao mar foi o desafio que encarei.
No contexto da minha obra trata-se de um projecto apaixonante, com o factor aliciante de se inserir no contexto urbano de Cascais, com toda a sua riqueza histórica e patrimonial, no âmbito de uma linha costeira de grande projecção internacional. Um desafio ao qual não resisti.”

 

Estoril-Sol por Daniel Carrapa in a barriga de um arquitecto

“A reocupação dos terrenos do Hotel Estoril-Sol por um novo complexo de uso maioritariamente residencial com chancela do estúdio de Gonçalo Byrne revelou-se um processo controverso e difícil, balançando entre a responsabilidade ética da intervenção, as possibilidades abertas pela transformação daquele território e também o choque com a memória pública do lugar e o seu contexto envolvente.

Se o espaço urbano é tantas vezes lugar de conflitos onde se estabelecem tensões diversas, do desejo de uma paisagem construída participada ao respeito pela legitimidade da iniciativa particular, entre o trabalho de autor e as expectativas dos cidadãos sobre o espaço que rodeia a sua vida diária, estaremos neste caso perante um projecto que terá representado um conflito também para o seu mentor. Pressentimo-lo das próprias palavras de Gonçalo Byrne, no pudor sobre a decisão difícil de demolição, nos constrangimentos tipológicos pré-definidos, nas condicionantes morfológicas.

Fazer arquitectura com dimensão urbana é negociar, tantas vezes, relações entre interesses divergentes, entre a conexão e a segregação, a privacidade e a vida comunitária. Trata-se de um exercício carente de uma visão urbana, crítica, sobre a refundação da intensidade funcional de um território onde se busca permitir diversidade sem pôr em causa a individualidade. Sobre isto, talvez valesse a pena reflectir quanto à atitude de Byrne perante processos complexos, desafiando-se a si e aos outros para além do discurso facilitista de uma estética reconhecível ou um cunho pessoal.

O novo Estoril-Sol revela-se enquanto edifício que não se baseia em qualquer tradição, na vivência implementada, mas numa possibilidade de futuro, de nova experiência do lugar. Estamos naturalmente perante uma encarnação de dimensão económica imobiliária, um landmark em contraste com o contexto, enfatizando a sua importância visual na paisagem enquanto ponto de referência. Pese embora o novo projecto estabelecer uma redução de um terço da área construída estamos perante um híbrido compacto de dimensão infraestrutural, uma figura dominante sobre a paisagem. Trata-se de um objecto que se propõe mais como sistema construtivo do que enquanto edifício individual, marcado pela porosidade dos vazamentos entre torres e consolas balançadas. Uma peça assumidamente escultural, marginal a formulações de tipologia pré-definidas. Harmoniosa ou discordante, é uma arquitectura que rejeita as limitações de estilo ou a representação de arquétipos, sugerindo afinal uma modernidade crítica e reguladora da urbanidade e do território que a envolve.

Só o tempo dirá o modo como este edifício mal-amado de um dos mais respeitados arquitectos portugueses se irá consolidar na memória popular. E no entanto ensaia-se já uma utilização pública da envolvente, uma apropriação do lugar enquanto espaço de encontro e de passagem, relacionando o vale posterior, o passeio público e a frente marítima, em sinergia com o tráfego pedonal intenso e diário. De resto, este novo híbrido parece estender-se pacientemente, observando a passagem do tempo à espera de se tornar aceite enquanto parte da paisagem.”

 

Estoril-Sol by Daniel Carrapa in a barriga de um arquitecto

“The implementation of this residential hybrid designed by Gonçalo Byrne proved to be a controversial and difficult process. Located by the sea in a site previously occupied by the Hotel Estoril-Sol, an icon of 1960’s Portuguese modernism, the new project raised concerns of intervention ethics regarding the transformation of the territory and the confrontation with the public memory of the place.

Urban space is often a stage for all kinds of conflict and tension, from the desire to promote a participated built environment to the respect for private initiative, between a sense of authorship and the expectations of the public towards the landscape that they inhabit. And here we recognise a project that represented a conflict for its own architect, as we can sense from Byrne’s concerns regarding the demolition of the previous building and the many urban and typological constraints that were pre-imposed to his design.

To propose an architecture of urban dimension is to negotiate, so often, contradictory interests and relationships, of connection and segregation, privacy and public life. Such endeavour calls for a driving urban critical vision, establishing diversity and functional intensity and still exercise its own sense of individuality. And maybe we should learn from the solemn attitude of Gonçalo Byrne who challenges us beyond the easy approach of a recognisable personal aesthetics.

The new Estoril-Sol is a building that defies tradition to propose new possibilities, a renewed experience of place. It’s a distinctive landmark that emphasizes its visual importance and sense of hierarchy. This is a compact hybrid of infrastructural nature and dimension, a dominant figure over the landscape. Harmonious or contrasting, this is an architecture that denies limitations of style or the representation or archetypes to suggest a critical sense of modernity.”

 

Dono de obra
Estoril-Sol, Investimentos hoteleiros, S.A.

Localização
Portugal

Datas
2004

INÍCIO E CONCLUSÃO DA EMPREITADA
Março 2007 a Agosto 2010

ÁREA DE CONSTRUÇÃO
28.800m2 acima do solo
26.000 m2 abaixo do solo

PROJECTO DE ARQUITECTURA
Gonçalo Byrne Arquitectos, Lda. – Arqt. Gonçalo Byrne

COORDENAÇÃO DO PROJECTO
Rolf Heinemann

2004-2005 ESTUDO PRÉVIO
coordenação:
Rolf Heinemann

colaboradores:
Angela Sabatelli
André Rodrigues
Eduardo Marvão
Gaia Patti
Marco Buinhas

2005-2006 PROJECTO BASE
coordenação:
Rolf Heinemann

colaboradores:
Angela Sabatelli
André Rodrigues
Eduardo Marvão
Gaia Patti
Marco Buinhas

2006-2007 PROJECTO DE EXECUÇÃO
coordenação:
Rolf Heinemann

colaboradores:
Ana Conceição
Carla Vieira
Catarina Viegas de Sousa
Jaime Vilalta y Nogueira
Joana Moraes Sarmento
Joana Varela Almeida Correia

Jone Moragues Olabarria
Kattalin Aurtenetxe
Leonor RaposoMiguel Lira Fernandes
Nuno Birne
Nuno Fideles
Nuno Marques
Patrícia Chorão Ramalho
Patrícia Caldeira
Pedro Soares
Rita Mendes da Graça
Rodrigo Germano
Telmo Cruz
Sandra Furtado
Sara Godinho
Sofia Torres Perreira
Susana Villares López

2007-2010 ASSISTÊNCIA TÉCNICA
coordenação:
Rolf Heinemann

colaboradores:
Ana Martins
Gilta Koch
Hugo Monica
Mário Freire
Tiago Girão

2004-2006 MODELOS TRIDIMENSIONAIS – MAQUETAS
coordenação:
João Pedro Bicho

colaboradores:
Mónica Mendonça
Nuno Pimenta
Roberto Sampaio

2010 ELEMENTOS PARA PUBLICAÇÃO
coordenação:
Rita Mendes da Graça

colaboradores:
Inês Nunes
Tiago Girão

MEDIÇÕES E ORÇAMENTO
Porfírio Ferreira

PROJECTO DE ARQUITECTURA PAISAGISTICA
GAP – GABINETE DE ARQUITECTURA PAISAGISTA
Francisco Caldeira Cabral
Elsa Matos Severino

PROJECTO DE ESPECIALIDADES
AFACONSULT – Porto

COORDENAÇÃO DO PROJECTO
Engº Rui Furtado
Engº Filipe Arteiro
Engª Joana Neves Silva

PROJECTO DE FUNDAÇÕES E ESTRUTURAS
AFACONSULT
Eng. Rui Furtado
Engº Tiago Alves

PROJECTO DE INSTALAÇÕES E INFRAESTRUTURAS HIDRÁULICAS
AFACONSULT
Eng. Paulo Silva

PROJECTO DE INSTALAÇÕES E INFRAESTRUTURAS DE GÁS
AFACONSULT
Eng. Paulo Silva

PROJECTO DE INSTALAÇÕES E INFRAESTRUTURAS ELÉCTRICAS
AFACONSULT
Eng. Raul Serafim

PROJECTO LUMINOTÉCNICO
AFACONSULT
Eng. Raul Serafim

PROJECTO DE INSTALAÇÕES MECÂNICAS
AFACONSULT
Eng. Isabel Sarmento

PROJECTO DE ARRUAMENTOS
AFACONSULT
Eng. João Burmester

PROJECTO DE ACÚSTICA
AFACONSULT
Eng. Joana Neves da Silva

PROJECTO DE GEOTECNIA
AFACONSULT
Eng. Filipe Afonso

PROJECTO DE PROJECTO DE DEMOLIÇÕES DO HOTEL ESTORIL-SOL
AFACONSULT
Eng. Tiago Alves

EMPREITEIRO
SOMAGUE – Engenharia
EDIFER – Construções

FISCALIZAÇÃO
ENGEXPOR – Consultores de Engenharia S.A.

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