FG+SG fotografia de arquitectura | architectural photography

PROAP Arquitectura Paisagista

PROAP Landscape Architecture

 

(A sedução da) IMAGEM
Fernando Guerra

“Para a maioria das pessoas o que não foi fotografado de certa forma não existe, ou existe menos” Gerard Castello-Lopes

Os vinte anos a desenhar paisagem que este livro celebra são a procura de uma linguagem na arquitectura paisagista mas são também, principalmente, a face de uma paixão que tenho partilhado na colaboração com o João Nunes e equipa. Quando há uns anos recebi o contacto para fotografar um jardim perto de Lisboa, questionei-me da mesma forma quando me pediram para fotografar um arranha-céus: foram, na verdade, primeiras encomendas em áreas cuja escala e especificidade saía do meu trabalho diário. Fiquei apreensivo, não com o convite, mas com o método/resposta que iria usar para a abordagem deste trabalho. Depressa percebi que, da mesma forma que na arquitectura registamos pequenas histórias ao longo de um dia de sessão com narrativas sempre abertas e intencionalmente difusas, permitindo imaginar todas as narrativas que aí terão lugar; na fotografia da paisagem o mesmo pode acontecer. A fotografia de qualquer coisa é sempre crítica em relação ao que capta, assumindo-se ao mesmo tempo como uma forma de ficção. Comunicamos assim ideias, conceitos, para chegar à síntese de um projecto paisagístico em imagens. É essencialmente o que faço há vinte e cinco anos, naquilo que nasceu e se desenvolveu como um simples hobby. A fotografia de arquitectura tem vindo a tornar-se num ponto cada vez mais imprescindível no exercício da arquitectura e do desenhar a paisagem. São já muitas as vezes em que basta um bom fotógrafo orientar a sua objectiva para uma obra, para que esta passe a ser conhecida em todo o mundo. Pelo contrário, uma obra não fotografada torna-se inadvertida.

Não acredito na objectividade da fotografia. Por mais que muitos tentem apagar as contingências subjectivas da vida quotidiana que “contaminam” os espaços puros que os arquitectos desenham, uma imagem de um qualquer objecto arquitectónico, ou simplesmente de um objecto, resulta sempre da imposição de um ponto de vista. O que é essencial é que a mensagem seja clara, transparente, usando toda a habilidade e capacidade que o fotógrafo possui, nomeadamente as suas pernas para se deslocar. Não é no computador que se resgatam imagens ou se dá valor ao que não tem. A única chave para perceber a paisagem é percorrê-la fotografando, captando a espacialidade, deambulando, fazendo associações de ideias, de formas, de cores, de dimensões. É através deste movimento que descobrimos as infinitas variáveis do espaço projectado, as singularidades que fazem distinguir um espaço significante das existências insignificantes que invadem as nossas cidades.

O sintetizar de um projecto de uma paisagem é distinto do de fotografar arquitectura, mas mais em questões cromáticas, técnicas. Os edifícios mudam ao longo de um dia mas não mudam geralmente de forma, nem são afectados pelo vento ou a chuva. Os espaços desenhados pela Proap acolhem, abrigam e orientam. Uma paisagem degradada pode dar uma belíssima fotografia, enquanto um jardim cuidado pode ser quase impossível registar de uma forma objectiva, completa. Como fotografar o que é mutável, que cresce e morre ou simplesmente muda de cor? Como nos relacionamos com essa paisagem? Como a vemos e percorremos? Como a vivemos? E claro, a minha preocupação constante: como a representamos? Como se chega a uma imagem fotográfica que tem a difícil missão de representar uma paisagem nova? A fotografia de uma árvore não se encerra em si mesma, mas é uma forma de nos deixar sintetizar o sistema de ligações que compõem a paisagem. É mais uma peça da procura.

Essa procura é, por mim, sistematizada em dois processos elementares: observar e sintetizar. Com um olhar analítico, critico, mas sempre aberto à surpresa do instante da imagem captada. A forma é pessoal e dificilmente é explicada. É complicado racionalizar o que é espontâneo. Talvez na essência esteja uma curiosidade em ver coisas. Existe uma relação imaginada que estabelece a prazo uma ligação de intimidade com um objecto, neste caso com uma paisagem viva. Assim, trabalhando por camadas, fotografia após fotografia, cada uma fornecendo uma pista diferente de cor, textura ou simplesmente uma sombra de quem passa, a paisagem fotografada revela-se, e, da forma que a arquitectura é uma viagem no espaço, a melhor fotografia de uma paisagem, na sua completa bi-dimensionalidade, pode mostrar a sedução do desenho estimulando quem a vê, captando o genius loci, o sentido de lugar que define a nossa época. Tão simples aparentemente de sintetizar, é um trabalho de espera em que se procuram relações entre aquilo que se construiu e aquilo que, intacto, já existia. Percursos de uma realidade complexa em que o tempo nos mostra o que temos de ver, procurando não descurar algum detalhe que possa vir a revelar-se fundamental na compreensão do projecto – a exposição à luz (diurna/nocturna); o posicionamento preciso da objectiva; o movimento das pessoas, a “coreografia” do quotidiano. Intensificando a realidade “retratada” através da valorização do momento decisivo em que todos os elementos se parecem ter perfilado para serem fotografados. E, assim, reconfigurando o mundo que nos rodeia.

Em todos os trabalhos inspira-me a procura da síntese do que se sente, mas não se vê e que pode apenas ser sugerido: a emoção de um passeio através da sedução de uma fotografia.
No final do dia, as fotografias que fiz não são mais do que convites a uma visita. Seduzindo quem as vê, e as obras da Proap são sempre um convite a essa sedução, onde tenho tido o privilegio de passar longas horas, chamando trabalho ao prazer de um dia a deambular ao sabor do vento e do sol, a apreciar a vida como ela é, ou poderá ser, se quisermos.

 

(The seduction of) IMAGE
Fernando Guerra

“For the majority of people what has not been photographed, to a certain extent, does not exist or exists less” Gerard Castello-Lopes

The twenty years of landscape designing that this book celebrates are the search for a language in the landscape designed but they are also, principally, the face of a passion that I have shared in recent years of cooperation with João Nunes and his team. A few years ago, when I received a commission to photograph a garden near Lisbon, I questioned myself in the same way as when requested to go and photograph a skyscraper: “Why me?” In truth, they were the first commissions in areas whose scale and specific nature is beyond my daily work. I was left apprehensive, not with the invitation but with the methodology/response that I would use in approaching this highly specific and demanding example of photographic reporting. I swiftly understood that, in the same way as in architecture where we register small stories over the course of the day’s session with always open and intentionally diffuse narratives enabling the imagination of all the stories that will take place there, landscape photography may be subject to the same approach. When photographing anything what is actually captured is always critical while simultaneously conceived of as a form of fiction. We thereby communicate ideas, concepts to provide a summary of a landscape project in images. This is basically what I have been doing for the last 25 years and growing out of what was then but a simple hobby. The photography of architecture has becoming an ever more essential
facet to architectural practice and landscape design. There are now already many cases when it only needed a good photographer orienting their objectivity towards a work for this to become known worldwide. On the contrary, a work that is not photographed cannot get such attention.

I do not believe in the objectivity of photography. However much many strive to erase the subjective contingencies of daily life that “contaminate” the pure spaces that the architects design, an image of any architectonic object or simply an object, always results from the imposition of a point of view. What is essential is that the message is clear, transparent and incorporating all the skill and capacity the photographer possesses, particularly the legs to get around. It is not by computer that you save images or add on value to that which is worthless. The only key to understanding the landscape is to cover it while photographing, capturing its spatial dimension, wandering, making associations between ideas, shapes, colours and dimensions. Through such movement we may discover infinite variations in the projected space, the uniqueness that enables a significant space to be distinguished from all the insignificant existences that invade our cities.

The summary of a landscape project differs from its architectural photography but more in terms of chromatic and technical questions. The buildings change over the course of a day, but do not generally change in shape, nor are they impacted upon by the wind or the rain. The areas designed by PROAP welcome, shelter and nurture. A run down landscape might result in the finest of photographs while a tended garden might be practically impossible to record in any objective and complete form. How do you photograph that which is undergoing change, which lives and dies or simply changes colour? How do we relate to such landscapes? How do we see and travel them? How do we experience them? And naturally, my constant concern: how to represent them? How do we get to the photographic image that answers the difficult mission of representing the new landscape? A photograph of a tree does not encapsulate this in itself, but is a way of enabling a summary of the interconnected system that makes up the landscape. It is another step in the search.

This search is, to me, systematised into two elementary processes: observation and synthesis. With an analytical and critical perception, but always open to surprise in the instant of the captured image. The means are personal with any explanation difficult. It is complicated to rationalise that which is spontaneous. Perhaps in essence this is about curiosity in seeing things. There is an imagined relationship that over time establishes intimacy with an object, in this case with a living landscape. Hence, we work by layers, photograph after photograph, each providing a different clue to the colour, texture or simply the shadow of somebody passing by. The photographed landscape is revealed in the way that architecture is a journey through space with the best photograph of a landscape, in its complete bi-dimensionality, able to show the seduction of the design stimulating the viewer, capturing the genius locci, the sense of place that defines our era. So apparently simple to summarise, this is a work of waiting while seeking out relations between that which was constructed and that which, intact, already existed. Routes through a complex reality in which time shows us what we have to see, aiming not to overlook any detail that might prove fundamental in understanding the project: the exposure to light (day/nocturnal), the precise positioning of the objective, the movement of people, the “choreography” of the daily. Intensifying the reality “portrayed” through valuing the decisive moment in which every one of the elements seems to have fallen into line to be photographed. And thus the world surrounding us is reconfigured.

In each commission, I am motivated by the search for a synthesis of that felt but not that seen and that which may only be suggested: the emotion of a stroll through the seduction of a photograph.
At the end of the day, the photographs I have taken are no more than invitations to visit. Seducing those who see them, PROAP projects are always an invitation to this seduction, where I have had the privilege of spending long hours called work in the pleasure of a day spent wandering in the wind and the sunshine, appreciating life as it is or, if you wish, how we might like it to be.

 

PROAP Arquitectura Paisagista
Bárbara Silva

“Ao longo de vinte anos, João Nunes e a equipa da PROAP dedicaram-se a uma procura, quase obsessiva, de uma forma de dialogar e de comunicar com a paisagem de um modo compreensivo e participativo. Um dos conceitos que melhor poderia definir a arquitectura da PROAP é o desenho; já que este se converte no processo de criação mais importante. É nele que está a essência de cada projecto e de cada intervenção, que se define pela interpretação da natureza, onde cada paisagem é transformada através dos sentimentos e das sensações que um lugar é capaz de transmitir…”

 

PROAP Landscape Architecture
Bárbara Silva

“Over the past twenty years, João Nunes and the PROAP team have dedicated themselves to an almost obsessive search of a way to dialogue, to understand and to communicate with landscape in a perspective and involved manner. One of the concepts that better defines the architecture of this group of architects is their approach to the main design, given it becomes the most important process of creation. The essence of each project and each intervention is withheld in the design that defines the transformation of nature where each landscape is transformed by the feelings and sensations of each place…”

 

Edição
NOTE

Coordenação Editorial
Bárbara Silva

Traduções
Mariana Wallenstein
Kevin Rose

Revisões
Tiago Campos
Carla Silva
Cristina Cavallotti

Textos
João Nunes
Gonçalo Byrne
Ricardo Bak Gordon
Pedro Costa
Fernando Guerra
Manuel Aires Mateus
entre outros…

Edição Gráfica
Prude

Impressão
Peres-SocTip, S.A.

Data da Edição
Dezembro 2010

Depósito Legal
320488/10

ISBN
978-989-97072-0-7

 

Publisher
NOTE

Editorial Coordination
Bárbara Silva

Translations
Mariana Wallenstein
Kevin Rose

Revisions
Tiago Campos
Carla Silva
Cristina Cavallotti

Texts
João Nunes
Gonçalo Byrne
Ricardo Bak Gordon
Pedro Costa
Fernando Guerra
Manuel Aires Mateus
among others…

Graphic Editing
Prude

Printing
Peres-SocTip, S.A.

Publishing Date
Dezembro 2010

Dutie Copies
320488/10

ISBN
978-989-97072-0-7

Facebook
Twitter
LinkedIn
Reddit
Email